Que a vida de mãe não é sempre um lindo arco-íris com unicórnios soltando puns coloridos no final, todo mundo sabe. O que ninguém sabe, é que aqueles comentários das tiazonas malvadas de plantão, que adoram "tocar o terror" nas futuras mamães (opa, muito eu), podem facilitar e preparar bastante a vida da pobre e relegada mãe, que pensa que tudo será mil maravilhas, e quando chega com o bebê em casa, percebe que nem tudo é tão flores assim.
Diferente de um produto que não corresponde as nossas expectativas, e vamos ao SAC reclamar, um bebê não pode ser "devolvido" para a fábrica (e acho que nenhuma mãe o faria. pensando bem...). Temos que lidar com os possíveis "defeitos", como choros constantes, acordar de madrugada 5x, bebê que mama pouco e etc. Não se desespere. Essa que vos fala, é uma das tiazonas malvadas, que adora relatar o lado B da maternidade, para derrubar toda e qualquer expectativa que a futura mãe tenha. Acho que diminuindo a expectativa, acabamos por diminuir a frustração, caso nada saia como a gente imaginou. Então, se você quer continuar com a visão linda e colorida da maternidade, é melhor pular este post.
Expectativa: Ah, meu bebê dorme o dia todo. Um anjinho. Raramente acorda de madrugada para mamar, e quando acorda, logo adormece novamente. Assim eu consigo descansar bastante, por longas 5h às vezes. Nem parece que tenho um RN em casa.
Realidade: Meu bebê era um anjinho que só mamava e dormia...até completar duas semanas, e descobrir que não estava mais no útero - onde descansava placidamente por longos períodos - e se dar conta de que está do lado de fora, com um par de peitos disponíveis pelo tempo que quiser. Sendo assim, ele acorda e mama todo desinteressado por apenas 5 min. Quando penso que ele se saciou e vou deitar para descansar, ele acorda se esgoelando, querendo mais peito. Eu não descanso nem meia horinha, e quando o faço, acordo ainda mais cansada. Todos os vizinhos sabem que tenho um RN em casa, a cara de acabada denuncia.
Expectativa: A amamentação é fisiológica. Foi só colocar o bebê no peito e tchum, pega correta, leite descendo e tudo indo tão bem. Sinto que nasci para este momento: amamentar meu filho. Não dói, tem sempre leite a vontade, e o melhor é que meu bebê mama tudo e esvazia a mama, evitando desconforto. Ele ganha peso normalmente, e não preciso complementar com nada.
Realidade: A amamentação é 90% força de vontade e 10% de...er...força de vontade. É como uma loteria, você nunca sabe se vai ganhar ou não, mas tenta assim mesmo (vai que...). Ou seja: pode dar certo, ou pode dar tudo errado. No primeiro filho tive todos os problemas: leite demorou a descer, mamilo feriu, e complementando na mamadeira, o leite diminui, e meu filho perdeu o interesse em mamar no peito, e desmamou sozinho com 4 meses. Na segunda experiência fui mais feliz. A pega foi correta, dores só mesmo no início, até o mamilo acostumar, leite desceu no terceiro dia, mas minha filha se saciava com o colostro do início. Chegando em casa vieram os problemas. Ela dormia demais, a mama ficava dura, tinha sensação de febre, não conseguia nem dormir de lado. Tive que ordenhar várias vezes para evitar o leite empedrar, até a produção de leite regularizar, o que aconteceu lá pela segunda semana, quando minha filha descobriu que não estava mais no útero. Sendo assim, pode doer e acontecer uma série de eventos, porém, pode tudo ir as mil maravilhas. Não tem momento mais recompensador, do que amamentar quem amamos.
Expectativa: Quando vi meu bebê, logo que saiu de mim, foi amor à primeira vista. Aquela pele toda enrugadinha, o rostinho tão sereno e bravo ao mesmo tempo, e também seu cheirinho. Tudo nele me inspira. Me sinto tão apaixonada, desde o primeiro momento, que às vezes parece que vou morrer de amor.
Realidade: Quando vi meus filhos pela primeira vez, senti sim, um sentimento muito forte, mas não posso afirmar ter sido amor à primeira vista. Não é questão de que eu ame menos meus filhos, em comparação com as mulheres que sentiram aquele amor instâneo, não. Eu amo meus filhos, mas levei um certo tempo para amar ser mãe. No nascimento do Bryan eu estava sozinha, e apavorada com tudo. Nem conseguia assimilar direito o que tinha acontecido aqueles 2 dias internada no hospital. Quando cheguei em casa tive todo problema de amamentação, choro embaixo do chuveiro, e muito, muito baby blues. Me sentia a pior mãe do mundo, e morria de medo de ficar sozinha com meu filho. Aquela criaturinha tão pequena, invadiu o meu mundo. E só me dei conta que aquela fora uma invasão de amor, lá pela segunda semana de vida. Naquele momento sim, quem perguntasse o que eu sentia pelo meu filho, eu poderia responder: amor puro e genuíno. Da segunda vez, eu já sabia o que me esperava, e tentei não criar expectativa sobre amores à primeira vista. Ao ver a minha filha nascendo, e o meu esposo do meu lado, segurando minha mão, me senti realizada, feliz, completa. Já no quarto com minha filha, eu só sabia pensar em como ela era linda (e parecida com o irmão), e tudo fluiu naturalmente. O amor surgiu em escalas, e logo eu estava apaixonada pela minha pipoquinha.
Eu sei que temos 9 meses para nos prepararmos, e acostumarmos com a ideia de uma nova vida em casa, mas para mim, nada te prepara para o momento em que você olha nos olhos do seu filho, e se vê.
Calma, nem tudo está perdido. Apenas algumas mulheres se encaixam na categoria da realidade (eu diria uns 99% hahaha). É possível que exista uma mãe que vai amar seu filho à primeira vista, não ter dificuldade nenhum em se adaptar as noites insones, e que não tenha problemas com a amamentação. Sim, existem mães do tipo tupinikim, que só precisam colocar o bebê no peito e pronto. Sem nenhuma preparação, pomada ou reza para o mamilo não ferir.
A maternidade é sentida, e vivida de modo diferente pelas mulheres. Existem aquelas que nasceram para ser mães, que sempre estiveram prontas para este momento, e também existem aquelas - como eu - que se apaixonam à segunda vista, e nem por isso deixam de ser boas mães. Seja como for, se você chegou a este blog, e post, ou está querendo engravidar, ou já está grávida, ou vivendo as dádivas da maternidade. O intuito não é assustar ninguém (só de brincadeirinha rs), mas sim dizer que nem sempre a vida de mãe é mil maravilhas, é tudo uma questão de adaptação. Mas assim como um dia de sol após uma tempestade, os momentos difíceis são recompensados com sorrisos, abraços, pézinhos, carinho e cheirinho. Coisas que só sendo mãe para saber.